17 de dez. de 2007

Preconceito lingüístico

Preconceito lingüístico

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O preconceito lingüístico é uma forma de preconceito a determinadas variedades lingüísticas. Para a lingüística, os chamados erros gramaticais não existem nas línguas naturais, salvo por patologias de ordem cognitiva. Ainda segundo esses lingüistas, a noção de correto imposta pelo ensino tradicional da gramática normativa origina um preconceito contra as variedades não-padrão.

Índice

Origens

O sociólogo Nildo Viana foi quem primeiro apresentou uma visão marxista deste fenômeno, relacionando-o com a educação escolar e a dominação de classe, bem como questionando pesquisadores deste tema. Para Viana, a linguagem é um fenômeno social e está ligada ao processo de dominação, tal como o sistema escolar, que é a fonte da "dominação lingüística". A ligação indissolúvel entre linguagem, escrita e educação com os processos de dominação, segundo o autor, é a fonte do preconceito lingüístico, pois a língua escrita veiculada pela escola se torna a língua padrão e esta se torna norma geral que todos devem seguir, mas o seu modelo se encontra entre os setores privilegiados e dominantes da sociedade. Assim, ele conclui que a escola é a base do preconceito lingüístico, e este reproduz as desigualdades sociais.

Na Inglaterra, por sua vez, a lingüista Deborah Cameron, autora do livro Verbal Hygiene, inicia sua obra citando uma manchete um jornal dominical, que diz numa tradução livre "Tradições Inglesas do Passado estão sob ameça". A reportagem não remete a nenhum grande costume inglês, mas sim a cidadãos ingleses comumente chamados de "anoraks", que saem às ruas para panfletar que a língua inglesa está sendo descaracterizada, arruinada pela mídia em geral. Como isso se torna relevante para um livro chamado “Higiene Verbal”?

O que ficaria claro, a partir desse ponto, é que existe um número significativo de pessoas que se importam sobre questões lingüísticas; essas pessoas não apenas falam seu próprio idioma, mas sao apaixonadas por ele. A autora se propõe então a ouvir o que essas pessoas têm a dizer, e compreender o porquê delas agirem de tal modo.

A autora comenta uma situação na qual ela estava com um grupo dessas pessoas presentes no Conway Hall (um centro de estudos culturais, independente) e, quando ela disse que era uma lingüista, todos ficaram animados, e disseram: “Wow, como os lingüistas combatem esses abusos da linguagem?” A autora, meio sem jeito, acabou evitando a discussão. Ela acredita que eles não entenderiam que a lingüística é uma ciência descritiva, e nao prescritiva, alem de acreditar que essa seria uma resposta um tanto rude. Em 5 de Julho de 1993, num programa de rádio da BBC, Michael Dummet, um professor emérito de lógica, apontava para o trágico estado da língua inglesa e apontava como culpadas desse fato as idéias ridículas dos lingüistas. Lingüistas, diz ele, proclamam que a Língua não importa, e pode ser usada e abusada à vontade.

Entre outros casos considerados "trágico-cômicos" pela Lingüística, a autora cita um memorandum do jornal The Times, onde o editor diz para os jornalistas que nao usem a palavra "consensus", pois era uma palavra horrível/odiosa. Por fim, a autora reitera sua proposta de tentar compreender (compreender nao significa concordar, ela deixa isso claro) o posicionamento assumido por essas pessoas frente a questões lingüísticas.

Nos Estados Unidos da América, apesar da não existência de uma academia reguladora dos assuntos da linguagem, não faltam pessoas que tomam pra si essa função, sendo elas conhecidas como "language mavens". Essas pessoas chegam até mesmo a constituir grupos de defesa de um chamado "inglês real", verdadeiro, ou numa posição mais globalista como acontece no caso do Esperanto. Elas mandam cartas para jornais dizendo/apontando para um "declínio do bom inglês". Seus alvos vão alem dos jornais, chegando a atacar anunciantes de panfletos, banners etc.

Críticas

Os críticos da tese do preconceito lingüístico argumentam que a tese em si, se levada a cabo, resultaria no descrédito das normas gramaticais, que por sua vez levaria à dificuldade na comunicação entre pessoas no futuro.

Referências

  • BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
  • CAMERON, Deborah. Verbal Hygiene, Londres e Nova Iorque: Routledge, 1995.
  • POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1997.
  • VIANA, Nildo. Educação, Linguagem e Preconceito Lingüístico. Plurais. vol. 01, n. 01. Jul./Dez. 2004.

Ligações externas

Favoráveis à tese

Contrários à tese

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