28 de nov. de 2007

Quem fala errado é burro?

Sob a ótica do preconceito linguístico, qualquer manifestação linguística que escape do triângulo escola-gramática-dicionário é considerada "errada", e não é raro a gente ouvir que "isso não é português".

Um exemplo, na visão preconceituosa da língua, é a transformação de "L" em "R" nos encontros consonantais como em Creusa, chicrete, praca e pranta onde a pessoa que assim fala é extremamente estigmatizada, sendo considerada, às vezes, como "atrasada mental".

Estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de um traço de "atraso mental" dos falantes "ignorantes", mas simplesmente diante de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria língua portuguesa padrão.

Observem o quadro:

Português Padrão

Etimologia

Origem

Branco

Blank

Germânico

Escravo

Sclavo

Latim

Praga

Plaga

Latim

Prata

Plata

Provençal


Como podemos notar, todas as palavras do português-padrão listadas acima tinham, na sua origem, um "L" bem nítido que se transformou em "R". E agora? Se acreditássemos que as pessoas que dizem Creusa, chicrete e pranta têm algum "defeito" ou "atraso mental", seríamos forçados a admitir que toda a população da província romana da Lusitânia também tinha esse mesmo problema na época em que a língua portuguesa estava se formando. E que Luiz de Camões também sofria desse mesmo mal, já que ele escreveu ingrês, pubricar, frauta, frecha, na sua obra que é considerada até hoje o maior monumento literário do português clássico: Os Lusíadas.

Este fenômeno que participou, inclusive, da formação da língua portuguesa padrão, chama-se rotacismo, e ele continua vivo e atuante no português não-padrão, porque essa variante deixa que as tendências normais e inerentes à língua se manifestem livremente.

Burrice, isso sim, é julgar sem ter conhecimento prévio, sem base cientifica, sem argumentos plausíveis. Falar "errado" não é sinal de burrice, como muitos acreditam, aliás, o que é falar errado? Falar diferente não pode ser considerado errado. É aí que está o preconceito.

2 comentários:

Anônimo disse...

Aí temos mais uma prova do quão ridículo e sem fundamento é o "preconceito linguístico"!
A língua existe de acordo com as necessidades de cada sociedade, a medida que esta muda, aquela vai,consequentemente, sendo transformada. O processo pelo qual a língua passou e fez com que palavras como "blanco" e "esclavo" virassem "branco" e escravo" são tão naturais quanto as modificações realizadas pelos falantes da língua não padrão, que falm "brusa" "craro". Basta analisar um pouco nossas próprias raízes para ver que, muitas vezes, discriminamos pessoas por estarem realizando tranformações comuns na língua, as quais muitas gerações foram modificando até chegarem ao que conhecemos hoje.

Anônimo disse...

bahhh! piohh q eu nunca tinha paradu p pensah nissu e agora q vi o blog, bahhh!!
balaa o post!!!